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Fichamento: O Ensino de História da África em Debate

Fichamento do livro O Ensino de História da África em Debate, do curso Educação para as relações etnicorraciais.

A atividade a seguir foi sugerida em um curso de formação continuada: Educação para as relações etnicorraciais. Ela refere-se ao fichamento de um livro elaborado para o curso, intitulado  O Ensino de História da África em Debate.

O Ensino de História da África em Debate

Pela diversidade e profusão de conteúdos existentes sobre história da África, optamos por um recorte histórico-cartográfico do continente africano.

O Ensino de História da África em Debate

1. A África como berço da humanidade

A consonância científica sobre a África como berço da humanidade só não é total por conta de duas posições teóricas divergentes, conhecidas por monogenismo (modelo Arca de Noé) e poligenismo (modelo Candelabro).

O continente africano é o único que, até o presente momento, apresenta amostras fósseis que indicam uma sequência evolutiva de pré-humanos. Charles Darwin, em 1871, apresentou a teoria de que a África é o berço da humanidade.

Com a descoberta de Mary Leakey, foi possível a construção da sequência evolutiva da humanidade e compreender que os australoptecos não eram um ancestral direto do homem. Os fósseis encontrados de 1959 a 1969 são reconhecidos como a mais antiga espécie do gênero homo descobertos até então.

Tanto a teoria monogenista quanto as abordagens presentes nos modelos explicativos monocentrista e policentrista consideram que homo erectus tenha se espalhado por todo o continente africano e para os demais continentes.

O gênero Homo é o grande tronco a partir do qual se subdividem três grandes linhagens de tipos de hominídeos e, esses são aparentados e não diretamente evoluídos em uma sequência linear.

2. A geografia africana: diversidade regional e correntes migratórias

Os séculos XVIII, XIV e parte do XX foram marcados por posições cientificistas europeias que apresentam o continente africano como tendo nem história ou humanidade, muitas vezes reduzindo-o a um país, quando não recortando-o conforme os interesses de dominação.

No plano histórico-filosófico, desde o século XIX, ficou amplamente conhecido o parecer do filósofo Friedrich Hegel que disse que a África não tinha história. Foram várias posições ideológicas negativadas, e é importante para a contribuição da diversidade humana de uma forma geral, e a compreensão da formação histórica da sociedade brasileira de uma forma particular, a desconstrução desses preconceitos.
Diversidade do continente africano e diáspora atlântica

De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o ensino de história e Cultura Afro-Brasileira e Africana nos currículos da Educação Básica é uma decisão política, com fontes repercussões pedagógicas, reconhecendo e valorizando - na escola - cerca de 42% da população brasileira. É preciso conhecer tal História com os pés no passado e o olhar voltado para o futuro. 

A deliberação de focar temas africanos na diáspora americana, faz-se importante pelo sentimento identitário que re-localiza o Brasil como parte constituinte das Américas. A retomada desse sentimento identitário pode ser reiniciado pelo conhecimento da história das culturas africanas em sua diáspora americana.

Para estudar História da África, deve-se estar ciente de que toda manifestação cultural é fruto de escolhas. E escolhas culturais não devem ser objetos de juízo de valor. Cultura é escolha. Escolhas baseadas em racionalidade e inteligência, ambas mediadas pela estética e pela economia seletiva de elementos da natureza que melhor se ajustem ao sentido da vida que se pretende levar.

Durante vários séculos o continente africano foi alvo de inúmeros estereótipos e construções imaginárias a respeito de seus povos e das diversas culturas ali desenvolvidas. Desde os primeiros contatos com a África, o olhar ocidental atribui ao continente africano uma ideia de inferioridade. No período imperialista, estes ideais ganham contornos mais precisos, principalmente depois dos estudos cientificistas que deram origem ao que chamamos hoje de racialismo científico.

É recorrente a versão de Hegel de que “a África não tem interesse histórico próprio, senão o de que os homens vivem ali na barbárie e selvageria, sem fornecer nenhum elemento à civilização”. Ideias reforçadas pelos sistemas de classificação biologicista, como o de Charles Linné, que tipificou a raça humana em cinco categorias diferentes: homem selvagem, americano, europeu, asiático e africano, atribuindo a cada um características biológicas, culturais e psicológicas inatas.

Ao longo de vários séculos foi-se construindo sobre a África um imaginário negativizado, que a coloca como o continente sem lei, sem cultura e sem história, um continente estanque, que vive em constante estado de selvageria e barbárie. A mesma lógica da construção deste imaginário é que alimenta hoje os racismos e preconceitos existentes sobre o negro, e os estereótipos que ainda hoje são mantidos sobre a África e os diversos povos que ali vivem.

Conhecer o continente africano, se torna o primeiro passo para desconstruirmos estes estereótipos. O estudo do diverso traz desafios epistemológicos e didáticos. Há uma inconformidade de termos e sentidos para conceitos comumente encontrados na história ocidental que necessariamente não se encontra correspondência imediata com a realidade africana.

Para estudar História da África é preciso, antes de tudo, humildade, posto que a África é o continente da diversidade. Essa diversidade está presente tanto na geografia quanto na filosofia e nas artes. A unidade não apaga a diversidade e não deveria entravar seu reconhecimento.
Por uma Cartografia Histórica da África

Historiadores alertam para a necessidade de se desconstruir a ideia de homogeneidade do continente africano. Pode-se iniciar pela própria geografia do continente. Comumente pode-se encontrar variadas formas de divisão geográfica do continente africano, apresentando um viés colonialista: geopolítico-colonial, paisagística e linguística.

A corriqueira divisão do continente em África Branca e África Negra é imprecisa e carregada de perspectivas eurocêntricas ou asiocêntricas. Um modelo que não consegue explicar, por exemplo, como a Nigéria e o Sudão, dois países que abrigam um dos dois maiores contingente populacional epidermicamente negro do planeta, estão localizados justamente ao norte do continente, além de serem majoritariamente africanos islamizados. Ou mesmo, explicar o grande contingente epidermicamente mais claro que se localizam ao Centro-Sul da África, como as populações koisans e bosquímanas, sem falar nos africãners.

Essa forma de divisão dual encerrava uma perspectiva ideológica de dominação. Esse viés histórico-geográfico sobre a África como para a difusão de ideias preconceituosas e discriminatórias sobre o continente. Ideias essas que estão presentes nos livros didáticos até os dias de hoje.

Hergel, afirma que essa parte do continente deveria ser deixada de lado, por não fazer parte da História da Humanidade. Para fugir os esquematismos desenvolvimentistas, teleológicos e etnocêntricos, no presente estudo, optou-se por dividir o continente africano em regiões geográficas e geométricas: África Central, África Austral, África Oriental, África Ocidental e África Setentrional. Essa configuração não foi arbitrária, ao se considerar as possibilidades dinâmicas e relativizadoras que tal divisão acolhe.

Por conta da política imperialista europeia, com a partilha da África entre suas potências no ano de 1885 e seu posteriores desdobramentos históricos, a configuração geopolítica do continente africano atualmente.

Vítima de um passado histórico de colonização, a Segunda Guerra Mundial provocou um processo de reação ao sistema de colonialismo europeu implantado a partir do século XIX, marcando o início dos processos de descolonização.

No ano de 1880, o continente africano esboçava em seus contornos litorâneos uma presença de colonialismo europeu. Cinco anos depois da Configuração de Berlim, até o ano de 1936 a configuração geopolítica do continente africano já era bastante marcante.

A primeira fase da descolonização aconteceu com a Conferência de Brazaville de 1944, na qual se reuniram todos os governadores das colônias francesas para estudarem e discutirem as reformas das instituições tradicionais.

Os primeiros países a se tornarem independentes durante a década de 50 foram: Egito, Reino da Líbia e as Repúblicas do Sudão, do Marrocos, da Tunísia, de Gana e de Guiné. Durante a década de 60 foram vários outros a conquistarem sua independência. Angola e Moçambique só conseguiram suas independências nos anos 70, depois de revoluções sangrentas contra Portugal. Com exceção do país Saara Ocidental, todos os países do continente africano estão independentes. Algumas ilhas do que fora a totalidade da parte insular do continente africano, continuam territórios de algumas potências europeias.
Regiões geográficas e históricas da África e sua diáspora no Atlântico Negro

Trataremos um pouco da história, cultura e geografia das regiões do continente africano em estudo e conhecer um pouco sobre dois principais segmentos que cruzaram o Atlântico rumo ao Brasil, e às Américas. É importante conhecer os segmentos (Bantos e Sudaneses) responsáveis por grande parte da formação da população brasileira e americana, para conhecer um pouco da variedade de topônimos e etnôminos que fazem parte da história e culturas africanas e afro-brasileiras.

Os sudaneses que cruzaram o Atlântico por força da empresa escravagista não faziam parte dos grupos étnicos do atual Sudão, pois na antiguidade o Sudão era conhecido por Núbia, logo os atuais sudaneses eram conhecidos por núbios, meroítas, kushitas ou napatas.

O termo “sudanês” tem origem em uma antiga expressão Árabe que indica ‘País dos Negros’ e referia-se aos povos que habitavam a atual África Ocidental, região que dividiu com povos da África Central e Austral denominados Bantos. Banto é artificial, refere-se a um recorte etnolinguistico de uma grande diversidade cultural e política, que a antropologia colonialista convencionou denominar.

No que se refere à África Oriental é importante vincularmos a história do Egito no continente africano, em resposta às posições eurocentristas que sempre localizaram esse país em um “mundo mediterrânico”, assim como fizeram com Cartago e Alexandria. Os temas sobre história da África devem ser enfrentados de maneira transversal por todas as disciplinas de História, pelo menos quando ainda vigora o modelo Quadripartite francês.

A presença islâmica no continente africano é uma história de longa e complexa periodização, porém de grave importância para se compreender muito da diversidade e impactos no modo de ser dos africanos contemporâneos, posto que mais da metade do contingente populacional da África são muçulmanas ou sofreram um processo de islamização desde o século VII da era cristã.
África Setentrional e Oriental

A África Setentrional localiza-se ao norte do deserto do Saara, composta pelos países de uma região cultural conhecida por Magreb (Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia, Mauritânia e Saara Ocidental). Atualmente, o Saara Ocidental encontra-se sob protetorado da ONU. 

Na África oriental convergem várias organizações políticas e sociais, dentre as quais a egípcia é sempre considerada como componente de grandes civilizações da antiguidade ocidental, com pouca ou nenhuma relação com o continente africano.

Em termos políticos atuais, a Etiópia e Eritréia não constituem parte do Norte da África, mas em termos históricos fazem parte de uma mesma configuração econômica, cultural e política.

Esse recorte é absolutamente necessário quando se busca descentrar o olhar homogêneo e racialista que vigorou nos compêndios sobre a História da África, desde a antiguidade. Conhecer topônimos e etnôminos torna-se importante para situar o aluno - espacial e temporalmente - no estudo da África. Deve-se lembrar que os primeiros relatos escritos sobre a África foram feitos por viajantes, gregos e árabes, sobretudo.

Enquanto na África os árabes foram grandes historiadores, os gregos foram grandes toponomistas, são comuns grandes confusões entre povos, localizações e temporalidades.
Egito, Núbia (Kush, Méroe, Napata) e Abissínia (Ashum)

A formação populacional do Egito, da Núbia e Abissínia são tributárias de longos processos migratórios de povos agricultores que, no IV milênio a.C., viviam na região do Saara. O Saara não era um deserto e sim uma região propícia à agricultura. A região nilótica não era atrativa para aquelas populações que até então habitavam o Saara, pois o leito do rio Nilo transbordava em altos índices.

Por volta no ano 3500 a.C, a região do Saara passava por processo de desertificação e durante alguns séculos sucessivas migrações partiam rumo à região nilótica. Um grande contingente populacional estabeleceu-se ao longo das margens do Nilo, do Delta à sexta catarata. Essas populações passaram a ponderar sobre formas organizacionais que melhor aproveitasse o excedente material produzido pela densa sociedade nascente.

O Egito escolheu se organizar em um modelo hierarquizado e teocrático. A Núbia escolheu organizar-se em sociedades autocráticas, independentes e dinâmicas.

É importante ter em conta que vários dos estudiosos que tentaram retomar a cultura egípcia no contexto africano foram ‘acusados’ de afro-cêntrismo. O conceito de ser negro deve ser contextualizado no âmbito das relações históricas e identitárias de um povo, e não apenas no viés biologicista ou racialista que engloba o termo.

Egito - tempo e espaço

A história Egípcia remonta à antiguidade no período de anos entre 400 a.C. a 3500 a.C. A Núbia encontrava-se localizada nos territórios ao sul do Egito os quais eram irrigados pelo Nilo. A região de Kush corresponde, grosso modo, ao vale médio do Nilo. Deve-se evitar as informações historiográficas que tem por ponto comum considerar a Núbia como um desdobramento do Egito.

Os núbios foram denominados, por historiadores gregos, de etíopes, não se pode e não se deve ser confundido o antigo etnômino ‘etíope’ com os atuais etíopes. A partir da invasão e ocupação do Egito pelos hicsos, vindos da Ásia, foi possível obter informações mais precisas sobre o reino de Kush, da qual Elefantina marcava sua fronteira ao norte, com o Egito.

3. África Ocidental

Há uma significativa presença na diáspora africana para as Américas e por sua influência na formação das religiões de matriz africana e afro-brasileiras.

Populações do Delta do Níger (Os Yorubás)

Os Yorubás estão localizados na porção noroeste do continente africano - abaixo do Saara - ao sul; a sudoeste e sudeste da confluência do Rio Níger com o Benue.

Origens dos Yorubás

Segundo as narrativas orais e historiográficas, a primeira cidade-estado yorubana fora Ifé. Os povos Haussás costumam dizer que o povo de Ifé se originou de alguns descendentes de Canaã, da tribo de Nimrod, que teriam sido retirados da Arábia por um príncipe de nome Ya-ruba. Outros povos dizem que Odudua, o pai de todos aqueles que depois se chamaram iorubás, era filho de um rei árabe, e que, por resistir ao Islã, teria sido expulso pelos fiéis mulçumanos; ou os primeiros habitantes de Ilê-Ifê vieram das terras dos Nupes ou das terras dos Haussás. A tradição yorubana afirma que os yorubanos nasceram em Ifé. E não só eles, mas também a Terra e os primeiros seres humanos foram criados em Ifé - o Umbigo do Mundo.

A criação do Mundo - Mito Fundador de Ilê-Ifé

No início dos tempos, as divindades viviam no Orum, abaixo do qual havia apenas a imensidão das águas. Olorum, senhor do Orum deu a Oxalá, o senhor das vestes brancas, uma sacola contendo uma porção de terra numa casca de caracol e uma espécie de galinha de cinco dedos e ordenou que descesse e criasse a terra.

Oxalá estava preocupado em realizar sua tarefa, e não se preocupou em cumprir a regra de Exu, que era de fazer uma oferenda a Exu, e este mesmo tendo percebido que Oxalá havia esquecido sua sacola com água, não o avisou. Oxalá sentiu muita sede, enfiou seu cajado em uma palmeira, da qual saiu vinho de palma e o bebeu abundantemente, ficou embriagado e adormeceu.

Sua rival Odudua roubou a sacola e usou o pó para criar o mundo antes de Oxalá acordar. Oxalá não levou a sério a proibição que lhe foi dada de beber, e continuou bebendo nos dias que se excedia, fez pessoas tortas ou mal cozidas. É por isso que os deformados e os albinos são filhos de Oxalá.

Odudua, após pegar a sacola de Oxalá tomou da porção de terra que estava em seu interior e lançou sobre a água. Depois colocou a galinha de cinco dedos em cima da terra, que começou a ciscar, espalhando a terra em todas as direções, para muito longe, até o fim do mundo. Odudua mandou o camaleão verificar se o solo era firme, depois pisou no chão de Idio, local onde fez sua morada e que hoje localiza-se Ifé, seu bosque sagrado.

Quando Oxalá despertou da embriagues e descobriu que o trabalho já havia sido concluído, percebeu o quanto o vinho de palmeira era perigoso. Assim proibiu seus filho que o bebessem para todo o sempre.
As fontes e o tráfico

Ao longo do golfo da Guiné, do Gâmbia à atual República dos Camarões, se estende uma região úmida, coberta de florestas pela ausência de documentos e ainda bastante desconhecida.

Os recursos naturais da região antes do ano de 1500 eram os óleos e vinho de palma, o sal, a madeira. A agricultura voltada para a produção de inhame, banana, arroz: após o século XV, com a chegada de portugueses, passou-se a produzir a mandioca e o milho. O ferro era conhecido de longa data.

Os habitantes da região do atual Benin eram formados por uma população eminentemente negra. A paisagem dessa região era formada por imensas regiões desertas em certas partes da floresta e era frequentada por mercadores sudaneses que comercializavam a noz de cola e o ouro, abundante na região limítrofe da Costa do Ouro e na Costa do Marfim.

A nomenclatura Costa da Malagueta, Costa dos Escravos e Rio dos Óleos, referia-se aos principais produtos de exportação e câmbio com europeus. O ouro foi o primeiro atrativo para os europeus, tornando a Costa do Ouro e a Rota dos Óleos as principais vias de trânsito de tráficos.

Cerca de 50000 escravos dessa região foram transpostos para as Américas no século XVIII. No ano de 1815 o tráfico foi abolido, mas a caça aos habitantes da região não pôs fim definitivo ao tráfico.
Principais cidades (povos) yorubanas

Os Yorubás foram caracterizados pela unidade linguística em torno do ramo kwa do grupo nígero-congolês. O etnômino Ioruba originalmente designava apenas o povo de Oió, hoje ele nomeia vários subgrupos populacionais e constitui aproximadamente 30% da população total da Nigéria e abarcam cerca de 40 milhões de pessoas. Na diáspora africana nas Américas encontra-se reminiscências yorubanas no Brasil, Cuba, Porto Rico, Trinidad-Tobago e Haiti.
Organização sociopolítica-religiosa

Antes da colonização inglesa, os Yorubás constituíam uma federação de cidades-estado tendo como centro Ifé, fundada por um chefe guerreiro de nome Odudua. Por volta de 900 d.C, a cidade-estado de Ifé se autoproclamou como uma potência dominante de várias cidades, portadoras de uma destacada complexidade político-cultural, que circundavam Ifé.

A cidade de Ifé se converteu no centro cultural e religioso de várias populações que a cercavam, as quais passaram a reconhecer a cidade de Ifé como primaz na emancipação de poderio.

Ifé estendeu sua influência e poderio para povos importantes que ficavam bem ao sul da Nigéria tais como os igbós e Edos. E cada nova cidade-estado que passava a integrar a federação iorubana recebia como chefe um Obá, cujo cargo representa uma forma de monarquia hereditária.

Para se tornar um Obá era necessário que o postulante passasse por um processo iniciático que o tornava um descendente espiritual de Odudua. Aliás, todos os demais dignitários deveriam passar por rituais de iniciação, posto que as instituições políticas da tradição iorubana são ligadas às instituições religiosas tradicionais de seu povo. Ambas sobreviveram sob o governo colonial inglês na Nigéria e continuam a funcionar até nossos dias.

Seguindo o mito de criação, os descendentes de Odudua forma, os fundadores dos primeiros reinos iorubas. Ao ascender ao poder, Obá enviava um mensageiro ao Oni para comunicar-lhe a morte do antecessor e pedir-lhe que o confirme Obá. O oni representava tanto a confederação das cidades, quanto as comunidades e, sobretudo, as divindades. Quando o Oni morria juntava-se aos Orixás, ele não era um simples sacerdote ou ritualista, mas o símbolo da unidade e a cabeça que conduz o corpo político de seu povo.

O Oní de Ifé detinha os poderes religiosos que confirmavam e sacramentavam a entronização de cada um dos Obás, os quais, iram até sua presença para as obrigações rituais que confirmavam seus laços com os Eborás, ancestrais primevos, violentos e perigosos.

Logo, o poder do Oni é a emanação do poder espiritual dos eborás, maior e mais forte do que qualquer tipo de poder físico. Oni, depois de consagrado, passava a ocupar a posição de senhor do Axé, imediatamente abaixo dos eborás: e quando morria, o Oni passava a integrar o panteão dos eborás.

4. África Central

Nesta subdivisão encontramos os países: Chade, República Centro-Africana, República Democrática do Congo, Congo.

Os Povos Bantos

O termo Banto se refere a um tronco linguístico no qual se encaixam entre 300 e 600 línguas e povos diferentes. É comum utilizar-se o termo banto hoje também para designar os povos que utilizam as línguas pertencentes ao tronco banto. Segundo a tese de alguns linguistas, as línguas bantas seriam derivadas de uma única língua comum, a protobanto. É possível reconstruir um pouco do modo de vida dos primeiros povos bantos através do estudo de sua língua.

Os povos Bantos eram pescadores, que praticavam a agricultura nas bordas da mata, coziam cerâmica, teciam panos de ráfia e outras fibras vegetais, faziam cestos, estavam organizados em extensas famílias e conheciam certas formas de controle social difusas, baseadas no prestígio dos mais velhos. Suas crenças religiosas não apresentavam grande distância das que ainda hoje professam muitos de seus descendentes: acreditavam que tudo participa da harmonia cósmica, que cada coisa possui força espiritual e que há permanente troca de poder e apoio entre os vivos e os mortos da mesma linha de sangue.

Os grupos que se expandiram para o leste deram origem às línguas bantas orientais, e os que se deslocaram para o sul, ao ramo ocidental do banto. Os bantos se expandiram até o norte da África do Sul, descendo à costa de Moçambique, onde tiveram contato com a bananeira, o coqueiro e a várias espécies de inhames de origem sul-asiática.

Mais tarde eles levariam estes produtos até o interior da África, do Zambeze até Senegal, fazendo com que a banana e o coqueiro passassem a parte da paisagem africana.

Após dominarem outras técnicas de obtenção de alimento, como o cultivo do sorgo, e do milhete, e a criação das cabras, carneiros e bois, os bantos puderam então se afastar da vida próxima aos rios. A maioria passou então a depender mais da caça e do gado do que da pesca, além da semeadura.

Englobando uma infinidade de comunidades e povos de pouca ou nenhuma semelhança física, os bantos, uma classificação mais linguística do que étnica, ocupam atualmente cerca de dois terços do território africano. Algumas características se mantêm constantes, como a divisão sexual do trabalho, cabendo às mulheres a agricultura e aos homens o pastoreio, e a organização familiar matrilinear, nos quais a mãe e irmãs do governante, chefe eletivo ou rei divinizado, exercem importante papel político.

Hoje podemos dividir os grupos bantos de acordo com suas características culturais e região geográfica, como os bantos: da floresta tropical, da savana atlântica, do planalto central, meridionais e orientais. Os povos bantos, expandindo-se, misturando-se, podem ampliar os seus conhecimentos nos contatos com outros povos, demonstrando como a cultura africana é rica e diversificada, mas sempre aberta ao contato com outros povos.

África Austral o Meridional

Os países que fazem parte da África Austral são: Angola, Zâmbia, Moçambique, Namíbia, Botsuana, Zimbábue, Suazilândia, Lesoto, África do Sul, Madagascar e as Ilhas Comores e Maurício.

O Grande Zimbábue e o Reino do Monomotapa


Por volta da metade do primeiro milênio, os povos bantos, provenientes da fusão entre a vaga oriental e a dispersão secundária a partir da África Central, assentaram-se na região dos rios Zambeze e Limpopo; então a classe dominante ergueu um santuário e outras edificações às quais deram o nome de Dzimbáhué. Traziam consigo a prática da agricultura, além de gado e do conhecimento da metalurgia.

Estudiosos atribuem um valor capital ao poder de agregação inerente à adoração de Muári, consideram que novos valores políticos foram acrescidos com a chegada de contingentes étnicos que não xonas. Creem que dinâmicas próprias, locais, tiveram como resultado a criação de sistemas políticos inéditos.

Em meados do século XIV, o Grande Zimbábue devia ter uma população acima dos 10000 habitantes. A sociedade devia ser extremamente hierarquizada: acima de todos, o rei e sua parentela; logo abaixo, os dignitários e os oficiais do Estado, seguidos pelos numerosos artesãos.

Apesar de toda a hierarquia, e dividindo a atenção com o poderio real, uma instituição específica era considerada como primordial: a família. Como deste modo os indivíduos tinham sua atenção voltada para a subsistência de sua família, ao que tudo indica o rei acabava por ser o único que poderia lucrar com o comércio em larga escala, pois só ele possuía os meios para mobilizá-lo.

Monomotapa era o nome que recebia o rei dos povos Xonas. Os Xonas eram guerreiros belicosos (espadas, flechas e lanças pontiagudas) e grandes comerciantes.

Tradições Religiosas

Para os Xonas, o mundo e todas as coisas são criações de um Ente Supremo, o Muári ou Mulungu, ou Ruwa ou Unkulunkulu. Ele personifica as forças da natureza e da sociedade. Porém é inacessível aos homens, não se envolvendo com problemas cotidianos da vida humana, se limitando a influenciar e controlar calamidades naturais.

O Monomotapa governava em nome de Muári, acumulando poderes políticos e religiosos. Os grandes depositários e conhecedores das coisas que dizem respeito ao cotidiano da vida e à natureza são os Nganga.

Os Mizimus, espíritos dos ancestrais, também desempenham um papel fundamental na religiosidade destes povos.

4.1. A presença muçulmana europeia no continente: Aspectos Gerais

É importante que fique registrado alguns termos e conceitos quando se referem aos povos e culturas do denominado “oriente próximo”. O termo árabe refere-se a uma divisão político-geográfica de países e povos que vivem ou viveram, sobretudo, na península arábica, a qual está ligada ao continente africano pelo istmo de Suez. O termo muçulmano provém da língua árabe muslim, que significa resignado, submetido a Deus. O termo muslin teve ou sofreu uma influência da língua dos persas e, a partir de uma corruptela, houve um derivativo do termo muslin para musliman e para islam. Nem sempre os árabes foram muçulmanos e nem todos os árabes foram islamizados. O processo de islamização de vários povos árabes ocorreu com a entrada do profeta Maomé na história, no século XVII [no conteúdo original consta este século, alertado por um leitor, o século seria VII, até aqui não tenho retorno do curso ou de alguma outra fontes para confirmar]da era cristã.

O continente africano está ligado à península arábica por uma pequena faixa de terra, o Canal de Suez. Essa proximidade geográfica fez com que tanto árabes não islamizados quanto árabes islamizados marcassem sua presença na África. Esse continente tem mais de 5000 anos de história!

Daí, hoje encontrarmos no continente africano muitos árabes e também compreendermos que, após sucessivas invasões e relações comerciais da África com Arábia e com Árabes muçulmanos, muitos africanos tenham se islamizado. O processo de islamização do continente africano ocorreu em levas sucessivas a partir do ano de 632 d.C, a partir do Egito em direção aos países que compõem o Magreb, reinos e países da África Ocidental, em especial os reinos de Mali, Songhai e norte da Nigéria.

Referência

SCARAMAL, Eliesse dos Santos Teixeira. SANZ, Wagner de Campos. Educação para as relações etnicorraciais 2. Goiânia: FUNAPE, UFG/Ciar, 2011.

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