Muito já se discutiu sobre o uso da calculadora em sala de aula. Argumentos favoráveis e contra são inúmeros e em sua maioria, compreensíveis. Mas de início adianto, deve-se SIM, utilizar a calculadora em sala de aula!
Algumas situações sobre o uso de calculadora em sala de aula e me foram relembradas a pouco quando assistia um vídeo do professor Augusto César Morgado sobre Matemática Financeira.
Momentos relevantes percebidos
Já faz um tempo que quero comentar este tema aqui no blog, pois após alguns anos enquanto aluno e outros em quase igual quantia como professor, percebi algumas características relevantes.
# Uma primeira lembrança sobre o uso da calculadora foi em 2000, em que cursava o 1º ano do ensino médio (dito "Científico - não profissionalizante"), houve a recomendação de que tivéssemos uma calculadora, de preferência científica (muitos alunos a exibiam orgulhosos). E a professora lançava um problema, a receita de bolo quase sempre vinha junto e quando ia resolver, ou pedia o resultado de uma das calculadoras dos alunos ou colava do rascunho. A questão é que, não se permitia compreender o sentido do problema, que girava em torno de uma fórmula e a manipulação da calculadora, pelo aluno que tinha a calculadora, os que não tinham só copiavam o emaranhado de letras e números.
# Tive minha primeira calculadora científica só na graduação, e não foi recomendação de professores, foi apenas o sentimento de que "Ah, agora estou cursando matemática... preciso de uma calculadora legal", e me veio uma MITSUCA SC220, que ainda guardo, sem bateria e sem a tampinha. Não me lembro de tê-la utilizado para tantos cálculos. Lembro de um colega, o "Sebastião" que entre suas várias histórias, vinha com uma sobre a calculadora que criava gráficos. Recordo também de ter inserido algumas fórmulas na memória e de ficar brincando com as variáveis e observar os resultados. Hoje tenho uma simples e barata Casio fx-82MS e a calculadora básica do celular, mas também não as utilizo com frequência.
# A questão que mais me fez escrever este post é que em 2011 e 2012, quando lecionei matemática e física em salas de 1º e 2º ano do ensino médio, e fui logo restringindo o uso da calculadora, os alunos reclamaram muito. Então propus algumas atividades de cálculo simples e percebi que a maioria deles não conseguiam, por exemplo, resolver subtrações e divisões com naturalidade; muitos foram relutantes, alguns diziam não conseguir mesmo, de que sempre usaram a calculadora. Não garanto a veracidade do que dizem. Outro fato foi que certa vez, alguns alunos não concordavam com os resultados apresentados para uma questão, quando verifiquei, consegui encontrar o erro que eles cometeram, algo até incrível - eles confundiam o ponto e a vírgula da calculadora e mais, tentavam utilizar o ponto que separa as classes em números inteiros e a vírgula de números decimais ao mesmo tempo, confundiam ou trocavam o uso, ou seja, não compreendiam algo básico da matemática e não o aplicava corretamente na calculadora, porque também não conheciam o básico da calculadora.
Ocorre que não vejo problema no uso da calculadora em sala de aula, desde que o aluno compreenda como utilizá-la e compreenda o que de matemática quer-se propor com determinada situação. Isso é algo que o professor deve atentar, não cabe proibir o uso da calculadora, mas perceber quando ela é realmente necessária na sala de aula e se o aluno tem condições de utilizá-la (ensiná-lo a utilizá-la). Ora, na vida, vemos a calculadora sendo utilizada a todo momento, nada mais comum associar certos conteúdos ao uso da calculadora, e até mesmo procurar compreender como é o seu funcionamento.
Proporcionar aulas que permitam o uso de recursos demanda metodologia, programar as aulas e intencionar o uso... Não é usar só porque vai facilitar um cálculo e ganhar tempo. E sobre ganhar tempo, não se perde tempo em procedimentos quando eles ainda não são de todo compreendidos. Usar a calculadora não é bom ou ruim, é necessário, mas com as observações adequadas, tais como as já evidenciadas antes.
Isso vale não só para a calculadora, vale para quaisquer recursos utilizados em sala de aula. Eles devem ser pensados, explorados e avaliados sobre seu uso fora da sala de aula e sua utilidade no ensino de matemática, e ainda, até mesmo como objeto de estudo (quando esteja relacionado a algo relevante para a matemática).
Artigos e outros recomendados
[1] Utilizando a Calculadora nas Aulas de Matemática - Artigo de Francisco M. P. Lorente.
[3] Atividades para Uso da Calculadora no Ensino de Matemática - Artigo de Ieda Giongo.
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