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Resistência em utilizar recursos tecnológicos na Escola

Artigo apresentado na disciplina Sociedade, Cultura e Tecnologia, no curso Mídias na Educação.

Como atividade final da disciplina Sociedade, Cultura e Tecnologia, no curso de Mídias na Educação, foi proposto a organização de um texto, em grupo, a respeito de temáticas estudadas no decorrer. O resultado é o texto Resistência em Utilizar Recursos Tecnológicos na Escola, parte de uma coletânea de textos da disciplina.
Andréa Brito Macêdo
Charles Lourenço de Bastos
Elaine Cristina Silva Mendes
Sandra Alves dos Santos Augusto

Resistência em utilizar recursos tecnológicos na Escola

Propôs-se, no texto, discutir a resistência em utilizar recursos tecnológicos na escola, levantando-se questionamentos a respeito de professores que se privam do uso ou que fazem uso inadequado destes recursos e discutindo a formação em “mídias na educação”. Os recursos tecnológicos são analisados enquanto ferramentas utilizadas nas atividades dos professores e como objeto de estudo no processo de ensino e aprendizagem. Por fim, conclui-se sobre a importância da educação e do professor frente às constantes mudanças na sociedade considerando-se que ele não deve deixar ser dominado pela tecnologia, nem considerando-a desnecessária, nem supervalorizando-a.

Palavras-chave: Recursos tecnológicos. Educação. Professor. Formação.

No contexto das velozes alterações tecnológicas no qual nos encontramos neste século XXI, algumas exigências se impõem e atingem diretamente mudanças na formação de professores. No espaço da universidade, essa formação deve se sustentar numa sólida formação teórica articulada com as capacidades de intervir de modo crítico na realidade cotidiana dos espaços formativos. A escola é um desses espaços. É fundamental que receios, medos, temores das tecnologias da informação e da comunicação possam ser dirimidos no sentido de tornar o professor um profissional capaz de avançar na construção dos conhecimentos de forma criativa, crítica e autônoma. Ivanildo Amaro Araújo.

É na escola que os alunos têm a possibilidade de vivenciar tudo o que acontece à nossa volta, com a oportunidade de estarem com pessoas capazes de orientar-lhes. A partir do final do século passado, vários estudos possibilitaram que a tecnologia disponibilizasse uma série de novos recursos e aprimorasse vários outros. Mas será que nós, professores, somos capazes de orientar nossos alunos frente à velocidade com que muda a tecnologia?

Lemos (2009, p. 139), afirma que “essa tecnologia é muito mais um fenômeno social do que necessariamente um fenômeno técnico”. Nesse sentido, não é possível negar-se às funcionalidades que são proporcionadas pela tecnologia, como têm sido utilizados os recursos ou como têm influenciado a sociedade.

É preciso, então, nos aproximarmos de recursos que nos são novos, mas que para muitos de nossos alunos são corriqueiros, pois eles já nasceram neste meio e têm maior facilidade, aceitabilidade em lidar com a tecnologia. Não podemos negar que existem ainda muitos alunos e escolas que estão distantes umas das outras com relação aos recursos tecnológicos que têm à sua disposição.

Há uma diversidade de situações que podem impossibilitar a apropriação dos recursos tecnológicos na escola. Trataremos de focar em três questões: a) professores que se privam do uso de recursos tecnológicos, b) uso inadequado de recursos tecnológicos e c) formação em “mídias na educação”.

a) Por que professores ainda se privam do uso de recursos tecnológicos na escola?


A todo o momento é possível perceber a presença de algum avanço tecnológico. Não devemos considerar que é a tecnologia a causadora de mudanças em nossas vidas, mas que nós provocamos as inovações tecnológicas. Não é que nosso modo de ser e agir não esteja mudando com os avanços tecnológicos. Se a tecnologia existe e percebe-se uma mudança cultural, isso ocorre justamente por sermos os causadores. Considerando assim, não há porque não explorar os recursos tecnológicos na escola, já que é seu papel, dentre muitos, a educação para a vida, para a sociedade e a sociedade tem vivido o que se chama “cultura das mídias”. Para Santaella (2003, p. 24), essa cultura:

(...) não se confunde nem com a cultura de massas, de um lado, nem com a cultura virtual ou cibercultura de outro. É, isto sim, uma cultura intermediária, situada entre ambas. Quer dizer, a cultura virtual não brotou diretamente da cultura de massas, mas foi sendo semeada por processos de produção, distribuição e consumo comunicacionais.

Quando tratamos de “recursos tecnológicos” na escola, restringimo-nos a lidar com duas situações:
  • Recursos como ferramentas que oportunizam ampliar o trabalho do professor: recursos tecnológicos podem ser utilizados pelo professor como ferramentas, uma vez que, por exemplo, enquanto ferramentas, reduzem o tempo destinado a atividades de gerenciamento ou facilitam a reprodução de informação; e principalmente,
  • Recursos como objetos de estudo: recursos tecnológicos podem ser utilizados como objetos de investigação. Neste sentido, um recurso deixa de ser apenas ferramenta e passa a ser explorado, permitindo a pesquisa e a construção do conhecimento. Professores e alunos começam a explorar suas funcionalidades, suas características, como utilizá-los?, por que utilizá-los?, qual é o seu emprego na sociedade? É este o uso que colabora com a formação de professores e alunos.

Diante das possibilidades acima expostas, nos perguntamos: que razões levam muitos professores a se privarem do uso de recursos tecnológicos na escola?


Araújo (2010, p. 3), ao discutir este assunto, contribui para nossa compreensão, apontando, entre outras, as seguintes razões que levam o professor a não utilizar recursos tecnológicos na escola: o fato do professor não se atualizar na mesma velocidade com que mudam os recursos tecnológicos; o ‘medo’ de se arriscar em aprender; a falta de conhecimento das potencialidades em utilizar os recursos; recursos escassos, sucateados ou com difícil acesso à internet; ausência de projetos de formação continuada; a formação precária; e a ausência de técnico para suporte. Percebe-se que os professores se privam, não pelos recursos, mas pelo despreparo e desconhecimento acerca das possibilidades de associarem estes recursos a atividades desenvolvidas na educação. O papel do professor tem se modificado, mas o professor não segue essa mudança e, assim, se apega ao comodismo, à reprodução daquilo que teve como aprendizado. Há que se destacar o comodismo, que causa uma ausência da busca por formação e aperfeiçoamento profissional, necessários para diversificar o trabalho do professor e promover novas formas de repassar o conhecimento.

Dessa forma, podemos responder afirmativamente ao questionamento inicial: o professor é, sim, capaz de orientar seus alunos frente à velocidade com que muda a tecnologia. Mas, para isso, deve estar em constante atualização e disposto a aprender. Acreditamos que as razões apontadas e que têm levado o professor a não utilizar ou a utilizar de forma indevida recursos tecnológicos na escola, podem e devem ser superadas. Para isso, os professores devem evitar atitudes que os levem à superestimação ou à subestimação, relatadas por Marcelo Tas (2009, p. 235), como a “confusão do homem com a máquina. Não se pode fazer essa confusão”


b) O uso inadequado de recursos tecnológicos na escola


Trabalhar com recursos tecnológicos na escola é uma relação confusa e conflituosa. Recursos tecnológicos, como discutido anteriormente, não podem ser utilizados apenas por acrescentarem algo mais nas aulas. O seu uso precisa ter uma intencionalidade, potencializando os objetivos das aulas e a proposta metodológica. O professor deve compreender que não há recurso tecnológico que o substitua, já que seu papel é justamente o de orientar a construção do conhecimento e de provocar ações que permitam aos alunos continuarem aprendendo ao longo da vida. Uma das razões de se utilizar inadequadamente um recurso tecnológico reside justamente no fato do professor não ter bem definida esta sua função para a educação. Não se deve propor uma atividade, por exemplo, de como utilizar as funcionalidade de um programa e acreditar que isso é aprendizado com recursos tecnológicos na escola; isso é conhecer algumas funcionalidades das ferramentas tecnológicas e não tirar proveito delas para o processo ensino-aprendizagem.

É preciso, portanto, pensar os recursos tecnológicos para além de suas funcionalidades básicas, eles devem ser considerados como objetos de estudo. Há que provocar no aluno o desconforto, a possibilidade de inovar e pesquisar, desenvolver nele a curiosidade de saber “como é que funciona?”, e de refletir sobre o que está por trás da tecnologia. Há que se ter uma finalidade clara de ensino e de aprendizagem quando se utiliza um recurso tecnológico, senão, não haverá nada de diferente, de novo, de motivador em propor uma atividade ao aluno com o apoio da tecnologia.

A respeito da escolha de como e com que recursos trabalhar, Marcelo Tas (2009, p. 236) afirma que:

Depende de como as pessoas que planejam a educação vão tratar deste mundo novo (...). Hoje, se o professor achar que é proprietário do conhecimento ele está fora do mundo. A informação está totalmente disponível e nós vamos ter que encontrar esse discernimento em rede. O conhecimento vai ser produzido desse relacionamento do professor com seus alunos, que é a tarefa do professor desde tempos imemoriais: ser um produtor de insights, de fricções de mentes e corações (...). Você tem que provocar um movimento físico, emocional no interior da pessoa.

O cenário digital é muito propício a isso, porque não precisamos mais carregar e decorar livros para cima e para baixo, está tudo na rede, o que sobra é o discernimento.

A educação precisa, então, de professores que saibam lidar com os recursos tecnológicos que já estão presentes na grande maioria das escolas, e que não os tenham somente como ferramentas ou instrumento de trabalho, mas como objetos de estudo, de ensino e de aprendizagem. É preciso adquirir o hábito de adotar metodologias criteriosas e objetivas para cada conteúdo, de tal modo que o uso dos recursos tecnológicos esteja bem definido. Ao elaborar atividades que utilizem recursos tecnológicos, é preciso mantê-las com a possibilidade da pesquisa, o desafio, o levantamento de questionamentos (sem respostas prontas, não mecânicas), de modo a ampliar a possibilidade dos alunos buscarem por si o conhecimento.

c) A formação em “mídias na educação”


A educação vem se modificando e realmente precisa estar em constante modificação, já que oportuniza ao aluno contribuições cada vez mais relevantes. Com os avanços tecnológicos, a formação do professor precisa passar, em algum momento, pelo conhecimento das mídias na educação, até porque “o aluno nos desloca e provoca ao colocar desafios que nenhum professor nos trouxe na faculdade nem na pós-graduação” (ALMEIDA, 2010, p. 96).

Se, na licenciatura, o professor não teve a oportunidade de conhecer sobre as mídias, isso não significa que ele não poderá buscar se aprimorar, ‘aventurar-se com segurança’, ser criativo, testar, manipular. É inerente ao exercício profissional do professor qualidades como a pesquisa, a partilha de conhecimentos, a formação continuada dentro da própria escola, ou em outros centros de aprendizado. A busca por formação continuada seria, então, uma saída para nos apropriarmos das inovações tecnológicas e sabermos lidar corretamente com os recursos, não os tendo tão somente como reprodutores de métodos e técnicas já aplicadas antes. O professor que se encontra em constante formação não precisa ser aquele que realiza uma infinidade de cursos, mas que procura a autonomia, pensada no sentido da pessoa que não se acomoda, que se informa, se atualiza, que está inserido em seu contexto e que interfere nos movimentos da sociedade. Neste sentido, o professor passa a assumir o seu papel de sujeito ativo, estabelecendo relações de colaboração e de troca de informações e experiências capazes de provocar a inquietação em seus alunos e nos colegas de trabalho. 

Conclusão


A intenção deste texto é mostrar que os recursos tecnológicos não são meros instrumentos para se comunicar, mas na medida em que favorecem determinados processos de aquisição e exploração do saber e da aprendizagem, interagem com a estrutura cognitiva dos sujeitos e das organizações. As características das atuais tecnologias proporcionam um espaço de profunda renovação da escola, permitindo pensá-las como a verdadeira comunicação de aprendizagem. Percebe-se que é na escola que os alunos têm a possibilidade de vivenciar tudo e se tornarem capazes de seguir o caminho rumo à aprendizagem. Em suma, é preciso compreender a chegada do tempo destas tecnologias que permitem passar de um modelo que privilegia a lógica da instrução, da transmissão e memorização da informação para o modelo cujo funcionamento se baseia na construção colaborativa de saberes, na abertura aos contextos sociais e culturais, na diversidade dos alunos, nos seus conhecimentos, experimentações e interesses.


Referências


ALMEIDA, Fernando José de. O melhor lugar para formar o professor. Revista Nova Escola. Editora Abril, ano XXV, n. 231, p. 96, 2010.

ARAÚJO, Ivanildo Amaro. Formação de professores e tecnologias da informação e da comunicação. Professor, você tem medo de quê?. Disponível em: <http://www.ufsj.edu.br/ portal2-repositorio/File/vertentes/Vertentes_35/ivanildo_amaro.pdf>. Acesso em: 26 fev. 2012.

LEMOS, André. Infraestrutura para a cultura digital. In: SAVAZONI, Rodrigo; COHN, Sergio (orgs). Cultura Digital.br. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2009. p. 135-149. Entrevista.

SANTAELLA, Lucia. Da cultura das mídias à cibercultura: o advento do pós-humano. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/73846850/Da-cultura-das-midias-a-cibercultura-o- advento-do-pos-humano-SANTAELLA-L>. Acesso em: 26 fev. 2012.

TAS, Marcelo. Comunicação digital. In: SAVAZONI, Rodrigo; COHN, Sergio (orgs.). Cultura Digital.br. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2009. p. 231-241.Entrevista.


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