O conteúdo que segue, faz referência aos questionários 1 e 2 e a participações realizadas num fórum sobre Educação Integral e Integrada.
Papel da escola na Educação Integral
Qual é o papel da escola na educação integral? O que muda na relação entre a escola e a comunidade na educação integral?
Percebi que em muitos comentários, mesmo que singelos, trata-se da realidade de feridas na educação do Brasil, mas não me agrado pelo teor de alguns depoimentos que se mostram generalizados em relação à educação, à escola.
De quando cursei o ensino fundamental até agora em que sou professor, vejo que as maiores dificuldades enfrentadas pela escola são: a mudança da condição família, questões econômicas e sociais e a inversão de valores escola-família.
Quando trato da mudança da condição família é que a cada momento existem novos fatores (conceito de família) dentro da família que afetam a criança e isso interfere em sua educação. Estas mudanças estão em filhos que são criados apenas pelo pai ou pela mãe ou pelos avós,... não se é mais pai, mãe e filhos a família.
Quando trato de questões econômicas e sociais, creio que a condição econômica do brasileiro tem melhorado, que a pobreza realmente tem diminuído e que são muitos os entrantes na classe média. Mas ainda é imprescindível que se cuide para questões como o desemprego pela não qualificação, a segurança, a saúde, o tráfico, a prostituição, e muitos outros males.
Quando trato da inversão de valores escola-família, é possível até mesmo perceber na fala de um dos entrevistados do vídeo que ele indica a responsabilidade da educação ao professor e não é somente dele tal responsabilidade. Já presenciei alguns casos que o "Toma que o filho é teu!" servia bem... há muito descaso com o filho, e isso é percebível quando ele reflete ações feitas em casa na escola e para ele é algo comum, ou quando praticamente não comparecem responsáveis em dias de reuniões ou mesmo encontros de projetos e comemorações na escola.
A escola precisa sim de mais pessoas capacitadas, disponíveis a se dedicarem pela educação, mas ela não vive sozinha, não é ela a dona da salvação. Ouve-se sempre que a "Educação é o maior valor de um homem", que ela é a herança para a vida, mas para tê-la é preciso muito mais. Por si, o professor, a escola não educa o aluno.
A política de educação tem trabalhado para a inclusão e para oferecer uma educação que se aproxime mais das individualidades e dos interesses de cada um dos sujeitos agentes na escola.
A escola tem buscado se adequar às novas formas de ensinar e de aprender, de ser inclusiva. Todas as escolas já são inclusivas, o que não significa que algum dia elas estarão prontas para a inclusão de todo indivíduo, pois sempre haverá algo novo ou um diferente indivíduo. Sendo inclusiva ela precisa estar aberta a acolher e proporcionar as melhores condições de aprendizado possível.
O papel da escola na educação integral continua praticamente o mesmo que sem ela, o que difere é na estruturação de acordo com as recomendações necessárias para atender o alunado de acordo com o proposto por tal educação.
O cumprimento do compromisso firmado entre escola e família, escola e comunidade, escola e alunos, escola e escola, é o que mais deve ser buscado para que todas as propostas planejadas tenham seus objetivos alcançados.
É preciso cuidar de tais questões de relacionamento próximos para então sair das paredes da escola e propor ações que envolvam manifestações, culturas, o social, o econômico, as diversidades, tornando-as viáveis e visíveis, abrangendo e ampliando o máximo possível.
A escola tem se tornado uma acumuladora de papeis, e são tantas atribuições que perdeu um referencial de ser. Ela precisa dar conta de tornar alunos cidadãos, de uma educação de conteúdos, de formação social, de acolhedora e difusora de culturas, de luta contra males da sociedade, de ser inclusiva... concordo que a escola precisa sim, cuidar de tudo isso, mas devemos compreender que é muito para o tempo que dispomos enquanto professores.
A proposta de educação integral de forma integrada, pode proporcionar melhores condições para que a escola consiga abraçar melhor tantos papeis. Diante disto, o papel da escola na educação integral, continuaria como tem sido, é claro que com mais ações, ela necessita fazer com que haja maior proximidade entre os envolvidos na educação; tornar uma comunidade em busca do ensino e da aprendizagem de qualidade; envolvendo outros profissionais; procurando mais parcerias; continuar tentando trazer os pais para dentro da escola; valorizar cada vez mais as vivências; evidenciar as diferenças, praticamente tudo isso a escola já se propõe a fazer.
Para que tudo isso possa funcionar bem, é necessário mais pessoal capacitado em novas áreas, é preciso manter um rigor de documentação (planejamento, projetos, ações, estratégias) e ainda, um comprometimento dos responsáveis pelos alunos de incentivá-los e de acompanhá-los nas atividades escolares.
Muito disso, mesmo sem a proposta de educação integral, já tem sido realizado, mas o que mais pesa e dificulta é a falta de compromisso e de proximidade entre a escola e as famílias.
No vídeo, em que aparece apenas uma parte do documentário, não é visto um outro lado muito comum nas nossas escolas. A realidade mostrada no vídeo não é bem a que vivenciamos. Aqui a maioria das famílias que demonstram desinteresse e desconhecimento pelos nossos alunos. Pena não termos visto depoimentos de professores da região de onde foi feito o documentário. O documentário não é ideal para discutirmos os entraves que vivenciamos por aqui.
O que mais deve mudar com a educação integral é justamente o que mais procuramos e tem sido muito pequeno o avanço, que é uma relação de maior proximidade entre os familiares e a escola, uma maior preocupação destes para com o aprendizado de seus filhos.
É fácil dizermos das obrigações das escolas, mas se não temos o retorno de casa, pouco irá adiantar 'matarmo-nos' socialmente realizando inúmeros eventos, atividades diversificadas, palestras, discussões de temáticas da mídia, visitas aos alunos em suas casas, conversas com responsáveis,... se a campanha de casa não caminha junto ao que propomos.
De acordo com Rosa Maria Torres, "Uma Comunidade de Aprendizagem é uma comunidade humana organizada que constrói um projeto educativo e cultural próprio, para educar a si própria, suas crianças, jovens e adultos, graças a um esforço endógeno, cooperativo e solidário, baseado em um diagnóstico não apenas de suas carências, mas, sobretudo, de suas forças para superar essas carências.
A escola é então um local propício para se manter uma comunidade de aprendizagem, já que a ela cabe o perfil que se enquadra no conceito de comunidade de aprendizagem. A educação integral tem relação direta com esta forma de aprendizagem, já que ela precisa principalmente trabalhar a comunidade.
Na Comunidade de Aprendizagem, o que muda é que a comunidade coopera para sua própria aprendizagem, dentro de sua vivência, de suas relações, de sua cultura, das suas individualidades. Não cabe então o modo que tratamos a escola e a comunidade. Fazer da escola uma comunidade de aprendizagem é algo que demanda muita conversa, cooperação, e entendimento comum das finalidades de se trabalhar em equipe.
Na verdade a desestruturação familiar deve sem entendida como a família que sofre por problemas como, má condição de saúde, pobreza, brigas e desacordos. Há que se cuidar para não achar que família é apenas aquela formada por pai, mãe e filhos... o conceito de família tem modificado e a falta de um destes sujeitos ou a inserção de outros sujeitos não deve ser considerado como desestruturação.
A desestruturação familiar certamente irá influenciar nos processos de ensino e de aprendizagem, já que o aluno precisa se relacionar com a família, ele aprende vendo, ouvido, se espelhando em ações a sua volta. Uma falta de estrutura (de condições de sobrevida) quase sempre provoca um desequilíbrio para, principalmente, a criança e o adolescente, que ainda não está pronto para lidar com muitas situações sociais.
Isso levado para a escola, prejudicará em seu perfil enquanto aluno. Temos vários casos de alunos que regrediram pelas condições adversas que a família vivia e outros que, pela conduta familiar, pelo empenho, mesmo na dificuldade conseguiram manter e até melhorar no aluno a condição de aprendente.
Para o professor, até mesmo situações vivenciadas fora do ambiente escolar são necessárias ao ensinar; por vezes ele precisa deixar o caráter professor e procurar compreender a condição de vida de seu aluno e para ela o ensino precisa ser diferenciado. É o que deve ocorrer para todos os alunos, diferenciar o ensino e não o que ensinar, ou seja, os meios são diferentes, mas a finalidade é a mesma.
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