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Recortes do texto A Tragédia Docente e Suas Faces

Trechos de estudo do texto: A tragédia docente e suas faces.

Esta postagem é uma coleção de recortes do texto A tragédia docente e suas faces de Eneida Shiroma, Maria Michels, Olinda Evangelista e Rosalba Garcia para estudo em uma disciplina de especialização. Vale verificar o texto completo e toda a coleção de textos produzidos no livro Formação de Professores no Brasil: Leituras e contrapelo.

Recortes do texto A Tragédia Docente e Suas Faces

A tragédia docente e suas faces

Introdução

Trata das percas que os professores tiveram nos últimos anos, com exemplo da luta no Paraná. Das repressões sofridas e do período de lutas, mas a imprensa pouco divulgou. Cita a redução na capacidade popular de se expressar (Guimarães, 2016).

Um processo de direitização significa imposição do medo à maioria da população (pela violência, pela perda de emprego ou por desqualificação da sua presença num lugar não desejado).

O professor está ameaçado, pressionado, abandonando a profissão, com salário e carreira precarizados.

Face um: o professor reconvertido

De Rossi (2005), reconversão docente (dar novas funções ao docente) significa o conjunto de estratégias adotadas por distintas instâncias e centros de poder para racionalizar os sistemas educativos e ajustar as políticas educacionais.

Evangelista, indica que a reconversão abrangia mudanças nas funções docentes; na avaliação de alunos, professores e gestores; na profissionalização do magistério; no sistema de certificação; na gratificação por desempenho; nas novas formas de gerenciamento do sistema educacional; na descentralização e autonomia escolar; na flexibilização da legislação e do currículo; na prestação de contas.

A política educacional brasileira, articula-se organicamente à produção do trabalhador requerido pelo mercado.

Face dois: o professor desqualificado

A reconversão docente foi impulsionada por discursos e práticas que tentaram denegrir a imagem do professor supondo-se seu despreparo e o anacronismo (atribui ao professor ações que não condizem com a época) de sua formação para lidar com as demandas do século XXI.

A tecnologia foi usada como componente não dominado pelo professor e assim este seria uma pedra para a inovação, a competitividade e desenvolvimento.

Vários slogans reafirmam a desqualificação do professor e com isso uma proposta de mudança o traria de volta a um reconhecimento existente no passado. E mais, o professor torna-se responsável por superar suas faltas.

É ele o veneno e o remédio das mazelas do país, torna-se objeto de avaliação e monitoramento.

Face três: o professor avaliado

Mostra uma coleção de exames nacionais de avaliação. Os resultados obtidos pelo sistema de avaliação têm repercussões em vários níveis:

  • distribuição e uso dos recursos financeiros;
  • composição curricular;
  • gerenciamento do sistema;
  • controle docente.

Estratégia do Banco Mundial para a Educação (2011-2020) segundo a qual os países deveriam implementar uma cultura de monitoramento e avaliação de resultados. Conseguir adesão do professor ao projeto reformista conduzido sob novas bases e com novas exigências. Recorre-se a vigiar, punir e prescrever "aprendizagem para todos", responsabilizando o mesmo professor.

Face quatro: o professor aprendiz

Segundo os reformadores, as universidades públicas não formam bem o professor, dada a abordagem excessiva teórica e ideológica. A reconversão do professor esvazia sua formação em termos teóricos e políticos. A preocupação com o professor é no sentido de desqualificá-lo. Ora, a formação é como treinamento e concebe-se o professor como aprendiz eternamente treinável.

E ainda, há a atribuição do professor ser metodológico e não de conteúdo. Reduz o professor a "facilitador" de aprendizagens relativas à vida cotidiana, a acompanhante do aluno que é tomado como solista.

O professor não ensina. Sua intervenção é reduzida à mobilização de um conhecimento prático, tácito e à resolução de problemas imediatos.

Face cinco: o professor multifuncional

A extinção das habilitações no curso redefiniu o perfil formativo, que agora está centrado em uma docência polivalente, menos específica em termos de atuação.

O professor do AEE (Atendimento Educacional Especializado) é um exemplo de após 2003 surgirem ofertas de cursos de aperfeiçoamento de professores para o AEE, surgindo também algumas especializações.

É uma formação para o enfrentamento das questões relativas à acessibilidade, ao uso de recursos específicos de acesso às informações. Não aprofunda os processos pedagógicos necessários à transformação das informações em conhecimentos.

A prática pedagógica é orientada para o "saber fazer" ou saber atender os alunos sem a preocupação com a crítica do fazer prático, uma forma de desintelectualização do professor em nome de um novo modelo técnico.

Modelo médico - pedagógico (diagnósticos / face orgânica da deficiência)

E com isso, ficam em detrimento os elementos sociais e educacionais. A formação tem caráter instrumental. Surgem os sujeitos sem necessariamente formação pedagógica, e uma prática de admissão de professores em caráter temporário.

Face seis: o professor responsabilizado

Os obstáculos enfrentados pelo Brasil se explicavam pela ausência de profissionalismo ou de formação. Mas na verdade, uma intervenção dos interesses burgueses que precisavam promover a adequação desses quadros às novas demandas da produção.

Ideia de profissionalização: empregabilidade, competência, eficiência/eficácia, capital social.

Um segundo conjunto: autonomia, comunidade, inclusão, parceria, solidariedade, tolerância, empowerment, diversidade, equidade.

A reconversão docente é um fato do âmbito da profissionalização que também significa ser responsabilizado pelos resultados do trabalho docente.

O professor deve atingir metas e produzir altos escores nos testes de avaliação em larga escala. Recai sobre o professor a responsabilização pela crise, pela pobreza e outras mazelas produzidas pelo sistema capital. O professor não deve ser o único responsável pelo desempenho dos alunos.

"Opressivo consenso subordinado ao pensamento único neoliberal". Slogans: "Educação ao longo da vida" e "Educação para todos". Grande projeto educativo cujo objetivo aparencial era promover a democracia, cidadania, segurança e coesão social.

Problemas de gestão da educação, má administração, e então atrelavam-se o monitoramento, o gerenciamento e a avaliação. A responsabilização pode ser sintetizada em palavras como competição, excelência, modernização.

Primeiro a ausência de autonomia responsável do professor e depois responsabilizá-lo por tudo. Não está em questão a qualidade docente propriamente, mas o seu uso para construir uma explicação palatável que justifique o desemprego estrutural e as relações de exploração em que se encontra a classe trabalhadora.

Face sete: o professor massificado da EAD

Recentemente, verificou-se expansão desordenada das vagas em nível superior, principalmente em IES privadas. A EaD se fortaleceu de tal modo que não se pode mais tomá-la apenas como modalidade de ensino; ela tornou-se a principal estratégia de formação docente do Estado brasileiro em qualquer das esferas, pública ou privada.

O crescimento foi facilitado pela política de flexibilização e diversificação do Ensino Superior, abrindo o esperado nicho de mercado para vários produtos que, interessantemente, foi denominado "democratização do Ensino Superior" e atendimento das necessidades docentes para a Educação Básica.

São variados os interesses econômicos e políticos do Estado e do setor privado no campo da formação de professores à distância.

Visam impedir que na escola e universidade pública se criem as condições para a produção e difusão de um conhecimento científico capaz de expor as determinações históricas das condições de vida da classe trabalhadora, incluindo o próprio professor.

Converter o professor a mero instrumento multifuncional no rol dos insumos necessários para a massificação da educação básica no país.

Face oito: o professor-instrumento

Tentativa execrável, e sempre malsucedida, de extinguir o pensamento humano para tornar o homem apenas corpo - quase máquina. Professor multifuncional (Vaz).

Exemplo: trataria de um profissional não vocacionado à docência, mas caracterizado como um recurso para a política de inclusão na escola regular (EE, AEE, sala de recursos multifuncionais).

Exemplo: reforma imposta pelas DCN do curso de Pedagogia, colocando o licenciado em Pedagogia uma espécie de super-professor, com muitas atribuições e competências e escassa formação teórica [Professor instrumento].

Superdocente: formação professor, gestor, pesquisador. Triches (2016).

Está em curso uma operação para impedir a atuação docente crítica, refletida, pensada, intencional. Trata os professores como recursos dos quais se deve extrair toda a potencialidade até esgotamento. Reduz a docência a um "que-fazer" esvaziado de conhecimentos científicos.

Exacerba o valor da Língua Portuguesa, Matemática e Ciências em detrimento das outras disciplinas, elege a tecnologia como solução para a aprendizagem e, num golpe final, intenta despolitizar e unilateralizar a formação confiscando seu sentido plenamente humano.

Face nove: o professor violentado

Adjetivos apostos ao professor da escola pública: protagonista, gestor, eficaz, inovador, empreendedor, ideológico, cujo propósito é o de caracterizar as múltiplas faces que lhe tentam imputar. Esboçam os traços de um professor violentado (violência simbólica e física).

As situações que surgiram na política refletem na redução salarial, não pagamento do piso salarial nacional ou o parcelamento de proventos, entre outras medidas, como a entrega de escola pública à gestão privada.

Violência de professores por gestores e alunos e pais e omissão do Estado frente aos problemas enfrentados em sala de aula. Condições precárias e intensificadas de trabalho e salário incompatíveis com sua práxis pedagógica.

Conclusão: o professor pensante

Aliança entre governos e o capital - patrocina mudanças - política educacional.

A função estratégica da Educação não poderia ser reduzida aos supostos interesses do Estado percebidos como acima dos interesses de classe.

Evidencia-se a necessária reconversão do trabalhador e do professor. O papel da Educação é de importância vital para romper com a internalização predominante nas escolhas políticas circunscritas à 'legitimação constitucional democrática' do Estado Capitalista que defende seus próprios interesses.

Produção de consenso, de formação de um modo de pensar o mundo repondo o debate sobre a função social da escola, do trabalho docente e a necessidade de discutirmos a dimensão política da formação docente.

Desqualificação profissional e pobreza intelectual. Uso do professor para explicar a má qualidade do ensino.

As possibilidades de uma intervenção pedagógica transformadora estão escritas nas condições que perpassam a formação docente e a educação escolar, na qual se destaca o compromisso com a formação da consciência crítica.

Professor...

  • reconvertido.
  • desqualificado.
  • avaliado.
  • aprendiz.
  • multifuncional.
  • responsabilizado.
  • massificado da EaD.
  • -instrumento.
  • violentado.
  • pensante.

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Charles Bastos

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